Instante de visita

Buracrônicas
3 min readJun 15, 2021

Wilquer Vitor Cordeiro Assis

Os parentes iam entrando, Dona Terezinha estava recebendo as filhas para uma visita. Elas foram à casa da mãe para ver a conclusão das obras da rampa de acesso que um grupo de alunos de uma faculdade planejou para ela. Quando todos terminaram de entrar, a sala até pareceu mais pequena do que já era. Ficaram todos apertados ali, a dona da casa, a filha que mora com ela e as visitas, três filhas e um genro. Isso sem falar das crianças e dos gatos.

— Bença, mãe. Como você tá? — cumprimentou Regina.

— Tô bem, graças a Deus. E ocês, como é que ocês tão? — perguntou Dona Terezinha.

— Tamo bem, também — responderam Márcia e Mônica.

— Tudo bem, graças a Deus — disse Frederico, o marido de Regina.

— E você, Marieta? — quis saber Regina, sobre a irmã que mora com a mãe.

— Tô bem também. Tô levando a vida.

— Que bom!

Todo mundo se espalhou pela casa procurando um lugar para sentar depois de perceberem que a sala não abrigaria todos eles. Os adultos se sentaram no sofá e em cadeiras da mesa, enquanto as crianças foram para os colos deles.

— A rampa ficou boa, hein! — foi Regina quem começou a conversa.

— Nossa, ficou boa mesmo! — Márcia deu sua breve contribuição para o diálogo.

— Ela vem até aqui na porta, né? Fizeram tudo até aqui. Deve que ficou bom agora pra subir e descer na hora de sair de casa — disse Regina.

— Sim, o pessoal fez tudo pra facilitar na hora que ela saísse de casa. A cadeira de rodas fica um pouco apertada na hora de passar pela porta, mas dá pra sair direitin — Marieta explicou a situação.

— Ali fora ficou bonito, tá parecendo a rampa do posto de saúde de lá de onde eu moro. Olhei assim e até pensei que a casa da mãe fosse o posto! — Mônica foi cômica em seu comentário.

Todos começaram a rir. Foi uma risada rápida que durou poucos segundos, mas já voltaram ao bate-papo.

— Cês querem água? Nem ofereci nada procês — ofereceu Marieta.

— Ah, eu quero um tiquin. Não precisa encher o copo, não. Você quer água, filha?

Quelo — Júlia era a mais nova entre os dois filhos de Regina.

— Eu vou aceitar também — disseram algumas das visitas.

Uns nem disseram nada, só se acumularam perto da geladeira. Todos beberam a água e deixaram o copo por aí. Ficaram confusos sobre o que fazer na casa que não é deles: lavam o copo ou deixam em cima da mesa? Escolheram a segunda opção.

Marieta, vendo o acúmulo de copos, sentiu uma leve raiva crescendo dentro de si. Ela teria que lavar aquilo tudo depois. Mas ela era uma boa pessoa, o sentimento não durou mais que um instante.

— Cês tão com fome? Eu posso fazer o almoço enquanto a gente conversa e vocês matam a saudade da mãe.

— Ah, você quer ajuda? Eu vou ajudar você a fazer o almoço. Márcia, vamo pra cozinha. Vem ajudar a fazer o almoço também! — disse Regina já botando ordem no lugar, como era seu jeito de ser, sempre com espírito de liderança.

— Larga esse celular, mulher. Isso não dá leite, não! — reforçou Regina.

— Ah, me deixa. Tu não paga as minhas contas!

Márcia aproveitou a pausa na conversa em que todos foram beber água e pegou o celular para olhar as mensagens novas. Não esperava que logo em seguida o centro das atenções estaria voltado para si.

— Anda logo!

— Tá bom! O que tem pra fazer?

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Blog criado com o objetivo de transformar em palavras o que as mentes incessantes dos alunos da Univale sentem sobre o projeto SOS Buracão